AI Overviews reduz acesso a sites de notícias em 20% e traz novo alvo para o Cade

São Paulo, 26 de novembro de 2025 — Um levantamento da Authoritas aponta que o AI Overviews, recurso de respostas geradas por inteligência artificial na pesquisa do Google, provoca perda mínima de 20,6% no tráfego de veículos de comunicação brasileiros. O estudo foi enviado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por Foxglove, Artigo 19, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio como subsídio a uma investigação sobre possível abuso de posição dominante da empresa.

Queda está relacionada ao fenómeno “zero clique”

Na versão tradicional da busca, o utilizador digita um termo, recebe uma lista de links e decide qual página visitar, gerando visitas aos sites de origem. Com o AI Overviews, o mesmo utilizador visualiza um resumo elaborado pela IA na parte superior da página, enquanto os links são deslocados para seções inferiores ou laterais. Muitos usuários consideram o resumo suficiente e deixam de clicar — comportamento conhecido como “zero clique”.

De acordo com a Authoritas, quando o AI Overviews aparece, a taxa média de cliques do primeiro resultado orgânico cai de 21,4% para 8,93%, um recuo de 58,3%. Ao projetar esse efeito sobre a frequência com que o recurso é exibido, a consultoria calculou perda média de 20,6% no tráfego dos sites de notícias.

O impacto financeiro, segundo o documento, é significativo. Veículos que dependem de publicidade veem as impressões de anúncios diminuírem; empresas baseadas em assinaturas têm menos oportunidades de converter novos leitores, prejudicando receitas e, em última instância, a capacidade de manter redações robustas.

Autores acusam uso de conteúdo sem remuneração

As entidades que levaram o relatório ao Cade afirmam que as respostas do AI Overviews foram treinadas com textos de veículos jornalísticos sem autorização nem pagamento. Elas alegam ainda que o Google oferece uma opção para impedir a utilização dos dados no treinamento de modelos, mas, ao acioná-la, o site corre o risco de desaparecer dos resultados de busca, o que as organizações classificam como “pena de morte digital”, dada a participação de cerca de 90% que a empresa detém no mercado de pesquisa no Brasil.

O documento também indica autofavorecimento: links do YouTube — plataforma pertencente à Alphabet, controladora do Google — apareceriam com maior frequência nos resumos gerados pela IA, possivelmente violando regras de concorrência.

Para chegar aos números, a Authoritas analisou aproximadamente 5 000 termos de pesquisa associados a notícias e assuntos atuais. Segundo os autores, a gigante de tecnologia não fornece dados detalhados que permitiriam aos próprios veículos medir o impacto das respostas automáticas, razão pela qual o estudo usa estimativas prudentes — que podem subestimar a perda real, alertam.

A apresentação do relatório ocorreu em 13 de novembro, dentro de inquérito aberto em 2018 que já investigava suspeita de “scraping” de conteúdo jornalístico pelo Google, prática de exibir trechos de matérias sem direcionar o leitor ao site original.

AI Overviews reduz acesso a sites de notícias em 20% e traz novo alvo para o Cade - Imagem do artigo original

Imagem: Internet

Procurada, a empresa declinou comentários específicos e direcionou para publicação oficial em que sustenta que o volume total de cliques orgânicos continua estável em relação ao ano anterior e que a qualidade desses cliques teria melhorado após a adoção da IA.

IA já aparece em mais de um terço das buscas sobre atualidades

O estudo mediu a incidência do AI Overviews em 35,3% das pesquisas relacionadas a notícias e eventos recentes no Brasil. A diretora jurídica da Foxglove, Stella Caram, prevê aumento dessa proporção: “Conforme a implementação avança, mais resultados serão exibidos nesse formato, empurrando ainda mais para baixo os links dos veículos”.

Os autores defendem atuação urgente do Cade e de outros reguladores para assegurar que organizações jornalísticas possam excluir seus conteúdos do treinamento dos modelos sem desaparecer dos resultados de busca. “É preciso garantir condições de mercado justas e preservar a diversidade de vozes essenciais ao debate público”, afirma o texto.

Google desenvolve Aluminium OS com IA no centro da experiência

Paralelamente às discussões sobre a busca, o Google prepara um novo sistema operativo para computadores pessoais. Chamado Aluminium OS, o projeto pretende unificar funcionalidades do Android e do ChromeOS, substituindo gradualmente este último. O lançamento comercial é previsto para 2026, com foco total em inteligência artificial.

De acordo com informações internas, o Aluminium OS deverá chegar a notebooks, tablets, dispositivos destacáveis e boxes de TV, trazendo modelos de IA integrados ao núcleo do software. A iniciativa reforça a estratégia da empresa de ampliar a presença da inteligência artificial em todos os seus produtos.

Embora não haja confirmação oficial sobre detalhes técnicos ou parceria com fabricantes, o cronograma indica que versões de teste podem aparecer nos próximos meses, alinhadas à aposta do Google em experiências assistidas por IA, que já incluem o AI Overviews — hoje alvo de escrutínio no Brasil.

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