A tecnológica britânica DEEP apresentou a Vanguard, cápsula subaquática concebida para alojar pessoas durante longos períodos a cerca de 100 metros de profundidade. O primeiro modelo deve entrar em operação no final de 2025 e funcionará como plataforma de testes para o Sentinel, habitat ainda maior previsto para 2027.
Estrutura e recursos do habitat
Com 12 m de comprimento e 7,5 m de largura, a Vanguard comporta até três ocupantes. O projeto inclui centro de mergulho, camas, cozinha, banheiro e área de trabalho, permitindo que cientistas, operadores ou futuros turistas permaneçam semanas — e potencialmente meses — sob a água sem regressar à superfície.
A cápsula dispõe de sistemas independentes de ar, água e eletricidade, além de mecanismos para remoção de resíduos e comunicação em ambiente submerso. Segundo a DEEP, a instalação foi desenhada para suportar operações contínuas, reduzindo a necessidade de manutenções frequentes e garantindo a segurança dos ocupantes.
O casco pressurizado e o interior modular foram desenvolvidos para facilitar a adaptação a diferentes tipos de missão, desde monitoramento ambiental até testes de equipamentos marinhos. A empresa afirma que os componentes atendem a normas internacionais de segurança para habitats submarinos habitados.
Motivação e objetivos científicos
De acordo com o presidente da DEEP, Steve Etherton, a exploração das grandes profundidades avança mais lentamente do que a pesquisa espacial. Ele destaca uma “desconexão” entre a sociedade e o oceano, elemento que inspirou a criação do projeto. “A tecnologia que estamos a desenvolver permitirá descobertas revolucionárias”, declarou Etherton à revista Oceanographic.
Ao oferecer residência prolongada no fundo do mar, a Vanguard busca eliminar a limitação de tempo que hoje condiciona a maioria das missões de mergulho profundo. Pesquisadores poderão observar ecossistemas sensíveis, analisar alterações climáticas e conduzir experiências biológicas sem interromper os trabalhos para descompressão frequente.
A cápsula também se destina a servir de laboratório para aperfeiçoar técnicas de construção subaquática, suporte de vida e logística. Esses conhecimentos deverão ser aplicados no Sentinel, estrutura que pretende ampliar a capacidade de ocupação, número de módulos e profundidade de operação.
Próximos passos e aplicações previstas
O protótipo da Vanguard encontra-se na fase final de desenvolvimento. A primeira implantação será dedicada a testes de certificação e treinamento de equipas responsáveis pela manutenção e pela operação diária do habitat. A empresa mantém conversações com parceiros na Europa, no Médio Oriente e na América do Norte para definir o local inaugural, com indicação inicial para a costa do País de Gales.
Imagem: Tecnologia & Inovação 39
Embora o foco imediato seja a pesquisa científica, a DEEP planeja expandir o uso da cápsula para turismo subaquático. No futuro, o compartimento poderá funcionar como “aquário imersivo”, atraindo visitantes em busca de uma experiência prolongada no ambiente marinho. A empresa também avalia possibilidades de cooperação com universidades, centros de conservação e entidades de monitoramento ambiental.
Etherton sublinha que o projeto tem horizonte de longo prazo. “Os principais beneficiários das nossas descobertas nascerão talvez numa ou duas gerações”, afirmou. Para sustentar a iniciativa, a DEEP pretende criar uma rede de habitats interoperáveis, conectados por veículos de apoio e sistemas de reabastecimento desenvolvidos especificamente para missões de profundidade média.
Impacto potencial para a exploração oceânica
Especialistas apontam que habitats fixos como a Vanguard podem reduzir custos operacionais e abrir caminho para campanhas de investigação ininterruptas em regiões ainda pouco estudadas. Hoje, a maior parte dos estudos em mar aberto depende de navios de pesquisa ou submersíveis com autonomia limitada. Ao manter pesquisadores no local de trabalho, a cápsula promete agilizar a recolha de dados e melhorar a resposta a fenómenos sazonais ou imprevistos.
Além da biologia marinha, outras disciplinas poderão beneficiar-se do novo habitat. Geólogos, engenheiros de materiais e especialistas em robótica poderão testar equipamentos em condições reais. A presença humana constante facilita intervenções rápidas em caso de falhas e permite ajustes em tempo real nas experiências.
A Vanguard representa, assim, um passo significativo para aproximar a investigação oceânica do ritmo de inovação visto na indústria espacial. Se o cronograma for cumprido, a instalação em 2025 fornecerá dados essenciais para o desenvolvimento do Sentinel e, em última instância, para uma rede global de laboratórios submersos.





