PEQUIM / XANGAI — A Baidu deu início esta semana a um amplo processo de cortes de pessoal que atinge diversas unidades de negócio, segundo seis fontes com conhecimento direto das medidas. A reestruturação ocorre depois de a companhia ter registado prejuízo no terceiro trimestre e enfrentar queda contínua nas receitas de publicidade, ao mesmo tempo que cresce a pressão competitiva no mercado de inteligência artificial (IA) da China.
Escala dos cortes e áreas afetadas
As fontes ouvidas indicam que as demissões deverão prolongar-se até ao fim do ano, sem número oficial divulgado pela empresa. Internamente, contudo, o movimento é percebido como “em larga escala”, com redução que pode chegar a 40 % em alguns grupos de trabalho, de acordo com dois interlocutores. O grupo de ecossistema de serviços para dispositivos móveis será o mais impactado, enquanto posições ligadas a IA e computação em nuvem tendem a ser preservadas.
A Baidu encerrou o ano passado com 35 900 colaboradores, já abaixo dos 39 800 registados em 2023 e dos 41 300 contabilizados um ano antes. A nova rodada de cortes aprofunda essa tendência de enxugamento, utilizada por várias empresas de tecnologia na China para conter custos e realocar recursos estratégicos.
Motivações: prejuízo e queda na publicidade
No terceiro trimestre, a companhia apurou prejuízo de 11,23 mil milhões de iuans (aproximadamente 1,59 mil milhões de dólares). A receita total recuou 7 %, com a fatia de publicidade online — principal fonte de faturamento do mecanismo de busca — a cair 18 % no mesmo período. Foi o segundo trimestre consecutivo de retração de receitas.
O desempenho negativo reflete a migração de anunciantes para plataformas de redes sociais, como RedNote e Douyin, braço da ByteDance. Esse cenário enfraqueceu o negócio histórico de busca da Baidu, obrigando a empresa a acelerar investimentos em inteligência artificial na tentativa de encontrar novos motores de crescimento.
Foco reforçado em inteligência artificial
A companhia investe há anos em IA e, em 2023, lançou o Ernie Bot, primeiro serviço tipo ChatGPT oferecido por uma grande empresa chinesa. Apesar do pioneirismo, o produto perdeu tração frente a rivais como Alibaba e à start-up DeepSeek. Em setembro, o Ernie Bot somava 10,77 milhões de utilizadores ativos mensais, enquanto o Doubao, da ByteDance, registava 150 milhões e o serviço da DeepSeek atingia 73,4 milhões, segundo dados do portal Aicpb.com.
Para recuperar terreno, a Baidu mantém a estratégia de incorporar IA aos produtos existentes. Mais de metade das páginas de resultados de busca em dispositivos móveis já inclui conteúdos gerados por algoritmos. Além disso, a empresa decidiu proteger postos de trabalho em IA e direcionar mais recursos para a área, decisão confirmada por quatro das fontes consultadas.
Imagem: Tecnologia & Inovação
Contexto setorial e comparações
A redução de postos de trabalho tem sido ferramenta recorrente entre as grandes companhias de internet na China. Em 2022, Alibaba e Tencent dispensaram dezenas de milhares de funcionários para enfrentar um período de repressão regulatória e pressão competitiva. Fora do país, gigantes norte-americanas como Amazon e IBM também promoveram cortes significativos recentemente, reforçando a tendência global de ajuste de quadros em tecnologia.
No caso da Baidu, a decisão de preservar equipes de IA e nuvem sinaliza a prioridade dada a esses segmentos, considerados essenciais para sustentar receitas futuras. Mesmo assim, o cenário continua desafiador. O modelo de linguagem de grande porte Ernie permanece atrás das soluções de concorrentes após mudanças de estratégia, incluindo a abertura de parte do código-fonte no início deste ano.
Perspetivas
Sem previsão de reversão imediata da baixa nas receitas de publicidade, a Baidu aposta na IA como vetor de recuperação. O sucesso dessa aposta dependerá da capacidade de acelerar a adoção do Ernie Bot e de monetizar aplicações baseadas em IA em serviços existentes, mantendo ao mesmo tempo a competitividade frente a Alibaba, ByteDance e novos players do setor.
Até o momento, a empresa não se pronunciou publicamente sobre o total de funcionários afetados nem sobre eventuais compensações. As informações disponíveis indicam que a reorganização deverá ser concluída até dezembro, com possível redefinição estrutural para alinhar o portfólio de produtos ao foco em inteligência artificial.





