Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2025 — Um grupo de entregadores por aplicativo realizou, nesta sexta-feira, uma manifestação na Cinelândia, região central do Rio, para contestar o novo sistema de trabalho do iFood, denominado +Entregas. Os participantes pedem a revisão do formato e reivindicam ajustes na remuneração mínima.
Como funciona o modelo +Entregas
Segundo informações apresentadas pela própria plataforma, o +Entregas exige que o profissional reserve um turno de três horas numa área predeterminada da cidade. Durante esse período, o entregador recebe um valor fixo por hora de disponibilidade e um adicional por cada pedido concluído. O sistema permite até duas rotas canceladas ou rejeitadas no espaço de tempo agendado.
O iFood afirma que o método amplia as chances de oferta de pedidos, otimiza rotas e proporciona maior controle da jornada. A empresa sustenta ainda que os ganhos ficam acima da média da modalidade convencional e que os aderentes têm prioridade em relação aos colegas que não participam do programa.
Reivindicações dos trabalhadores
Os manifestantes argumentam que o novo modelo restringe a autonomia, gera disputas internas e reduz o valor líquido das corridas. De acordo com Alexandre Moizinho, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Direitos, a taxa mínima hoje paga pelo iFood é de R$ 7, mas a categoria pleiteia a elevação para R$ 10. “Com o +Entregas, esse valor pode cair para R$ 3,30 em algumas rotas”, afirmou.
Moizinho acrescentou que o agendamento obrigatório impede que o entregador decida livremente o próprio horário, além de forçá-lo a permanecer em um território à espera de chamadas. Para o grupo, a medida contribui para a instabilidade financeira num cenário de aumento de custos com combustível e manutenção de motocicletas ou bicicletas.
Críticas a modelos de logística terceirizada
Durante o ato, também foram alvo de críticas o sistema de operador logístico (OL) — já utilizado anteriormente — e a atual transição para a franquia de serviços logísticos EntreGô, pertencente ao mesmo grupo empresarial. Nos dois formatos, os entregadores precisam abrir CNPJ como microempreendedor individual (MEI) e submeter-se às regras da intermediária.
Bruno de Souza, 37 anos, que atua há mais de quatro anos na plataforma, relatou dificuldades no modelo independente — chamado de “nuvem” — por causa da suposta redução de ofertas de pedidos. “As corridas se tornam mais longas e menos frequentes, pressionando o trabalhador a migrar para as modalidades controladas”, declarou. Ele acrescentou que, sem vínculo formal, não dispõe de cobertura previdenciária: “Estou com hérnia de disco e sem condições de trabalhar; não tenho acesso ao INSS”.
Imagem: Últimas Notícias
Posicionamento da empresa
Em nota, o iFood afirmou respeitar o direito à manifestação e reforçou que a adesão ao +Entregas é opcional. A empresa declarou que a implementação é gradual em diferentes regiões do país e que acompanha indicadores de desempenho para “garantir competitividade, eficiência e vantagens para todos os envolvidos”.
Sobre o antigo operador logístico, a companhia informou que não utiliza mais esse recurso e que a franquia EntreGô surgiu “a partir de demanda dos próprios entregadores”, com propósito de oferecer gestão padronizada e maior qualidade nas entregas.
Próximos passos dos entregadores
As lideranças do movimento planejam ampliar o diálogo com órgãos públicos para discutir regulamentação do trabalho por aplicativos e a inclusão de garantias trabalhistas. Entre as pautas estão a definição de remuneração mínima, acesso a benefícios previdenciários e transparência nas políticas de distribuição de pedidos.
Até o momento, não há previsão de novas reuniões formais entre representantes dos entregadores e a direção do iFood, mas os manifestantes anunciaram que manterão calendário de mobilizações em outras capitais.





