Musgo japonês sobrevive nove meses no espaço e mantém capacidade de germinar

Esporos de musgo conseguiram suportar 283 dias de exposição direta ao espaço sideral e retornaram prontos para se reproduzir, revelam investigadores da Universidade de Hokkaido, no Japão.

Experimento fora da Estação Espacial Internacional

A equipa liderada por Tomomichi Fujita enviou, em março de 2022, centenas de esporófitos da espécie Physcomitrium patens para a Estação Espacial Internacional (ISS). Assim que chegaram, astronautas fixaram as amostras no exterior do laboratório orbital, deixando-as em contacto direto com um ambiente de microgravidade, vácuo quase absoluto, radiação cósmica e variações extremas de temperatura.

Os esporófitos permaneceram do lado de fora da ISS durante 283 dias, período equivalente a cerca de nove meses. Em janeiro de 2023, as amostras voltaram à Terra num veículo de carga, sendo imediatamente encaminhadas para análise no laboratório da universidade japonesa.

Resiliência vegetal surpreende cientistas

De acordo com o estudo publicado na revista iScience, mais de 80 % dos esporos mantiveram a viabilidade após a longa permanência no espaço. Em alguns lotes, a taxa de sobrevivência chegou a 86 %, indicador considerado elevado para organismos expostos sem qualquer proteção a condições tão adversas.

Antes de enviar as amostras à ISS, os investigadores submeteram três estruturas do musgo a testes preliminares em laboratório: protonemata (filamentos de musgo jovem), células de brotamento (células-tronco formadas em situações de stress) e esporófitos (cápsulas repletas de esporos). Os resultados apontaram os esporófitos como a forma mais resistente, suportando temperaturas de −196 °C durante mais de uma semana e de 55 °C durante um mês inteiro. A camada que envolve o esporo parece funcionar como barreira física e química, reduzindo danos provocados por radiação e variações térmicas.

“Esperávamos uma taxa de sobrevivência muito próxima de zero, mas o oposto ocorreu”, relatou Fujita. Para o investigador, a experiência demonstra que mecanismos celulares desenvolvidos na Terra conseguem, em certos casos, proteger a vida mesmo fora do planeta.

Possíveis aplicações em missões futuras

Com base na taxa de sobrevivência medida, a equipa calcula que esporos semelhantes poderiam resistir até 5 600 dias — cerca de 15 anos — em condições espaciais, embora reconheça que a estimativa exija validação com períodos mais longos de exposição.

Musgo japonês sobrevive nove meses no espaço e mantém capacidade de germinar - Tecnologia & Inovação

Imagem: Tecnologia & Inovação

A descoberta interessa a projetos de agricultura em ambiente extraterrestre. Por serem capazes de germinar após longos períodos no espaço, musgos poderiam servir como organismos pioneiros na produção de oxigénio, retenção de humidade e preparação de solos em bases na Lua ou em Marte. Além disso, a facilidade de cultivo e a tolerância a extremos de temperatura fazem da espécie um candidato a sistema biológico de suporte de vida em habitats fechados.

Os investigadores defendem ainda que os resultados abrem caminho a estudos sobre a transferência natural de material biológico entre corpos celestes, hipótese conhecida como panspermia. Se esporos de musgo conseguem atravessar o espaço sem perder a capacidade de germinar, microrganismos terrestres ou extraterrestres poderiam, em teoria, realizar viagens semelhantes presos a detritos ou meteoritos.

Próximos passos da equipa

No curto prazo, o grupo da Universidade de Hokkaido planeia repetir o experimento com períodos de exposição superiores a um ano e analisar como variações na radiação cósmica afetam a capacidade de reprodução dos esporos. Outra linha de pesquisa deverá investigar se as mutações acumuladas no DNA durante o voo espacial podem conferir vantagens adaptativas ou, pelo contrário, comprometer a saúde das plantas.

Os autores também pretendem comparar a resistência de Physcomitrium patens a musgos de outras regiões do planeta, incluindo espécies encontradas em desertos e regiões polares. O objetivo é identificar traços genéticos associados à tolerância a stress múltiplo e avaliar a possibilidade de transferi-los a culturas agrícolas usadas em missões tripuladas.

Para além das aplicações práticas, Fujita destaca a relevância biológica do resultado: “Ao mostrar que uma planta terrestre primitiva resiste à radiação, ao vácuo e a temperaturas extremas, demonstramos que a vida detém estratégias de sobrevivência mais robustas do que se pensava. Isso amplia a compreensão sobre os limites em que organismos multicelulares conseguem prosperar”.

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