Inep explica anulação de três questões do Enem 2025 e descarta vazamento

Educação e Tecnologia

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manoel Palacios, prestou esclarecimentos nesta terça-feira (2) à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados sobre a antecipação de itens do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025. Durante a audiência, o dirigente afirmou que a anulação de três questões foi uma medida preventiva para resguardar a integridade da avaliação e reiterou que não houve vazamento oficial de conteúdo.

Anulação preventiva das questões

Palacios relatou que os primeiros indícios de divulgação prévia surgiram em 18 de novembro, levando o Inep a criar imediatamente uma comissão interna de investigação e a acionar a Polícia Federal. O grupo avaliou uma apostila com 90 itens atribuída ao estudante de medicina Edcley Teixeira, de Sobral (CE), apontado como responsável por lives e materiais que anteciparam parte do conteúdo.

Após analisar 900 questões presentes nos materiais do universitário, a comissão identificou “semelhanças significativas”, mas não uma reprodução integral dos itens aplicados no exame de 2025. Três perguntas, no entanto, apresentavam nível de coincidência considerado alto e foram anuladas antes da conclusão da investigação. Segundo Palacios, a decisão de retirar apenas esses itens buscou proteger o exame sem comprometer a precisão estatística da prova.

De acordo com o presidente do Inep, a Teoria de Resposta ao Item — metodologia que fundamenta a correção do Enem — permite manter a confiabilidade dos resultados mesmo com a retirada pontual de perguntas. “A anulação de um, dois ou três itens não altera a estimativa de proficiência dos candidatos”, afirmou.

Papel dos pré-testes e origem das semelhanças

No depoimento, Palacios explicou que o Inep aplica pré-testes para calibrar o nível de dificuldade das questões que podem entrar em futuras edições do exame. Participantes realizam esses testes em ambiente controlado, sem acesso a celulares ou câmeras. Ainda assim, alguns candidatos memorizam parte do conteúdo, o que, segundo o dirigente, explica as semelhanças vistas nos materiais divulgados.

“Os registros que circularam não são idênticos aos itens oficiais, mas reproduções de memória feitas depois da participação em pré-testes”, disse. O presidente negou que existam provas de vazamento direto do banco de questões do Inep.

Esquema de memorização e venda de material

Investigação da Polícia Federal apura a suspeita de que Edcley Teixeira pagava R$ 10 a estudantes para que participassem de um concurso da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) — utilizado como pré-teste do Enem — e decorassem perguntas. Com o material memorizado, ele montava um banco de questões para vender pacotes de mentoria.

Ao menos oito itens aplicados no Enem 2025 foram antecipados em lives, apostilas e grupos de mensagens administrados pelo universitário, segundo a investigação em curso. Três desses itens já anulados apresentavam alta semelhança com a prova oficial; os demais, de acordo com o Inep, continham apenas pontos em comum ou variações substanciais.

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Imagem: Internet

Impacto na nota e equivalência entre aplicações

O Enem 2025 teve duas aplicações regulares: a nacional, em 9 e 16 de novembro, e a destinada ao Grande Pará, realizada entre 30 de novembro e 7 de dezembro. Palacios assegurou que as notas dos candidatos de ambos os períodos serão equivalentes, mesmo após a anulação dos três itens.

Especialistas consultados pelo Inep avaliaram que a retirada das questões não afeta a comparabilidade dos resultados, pois o número total de itens excede o mínimo necessário para estimar a proficiência dos estudantes nas quatro áreas do conhecimento.

Pontos ainda sem resposta

O Inep não divulgou os parâmetros psicométricos — dificuldade, discriminação e acerto casual — das questões anuladas nem das demais que apresentaram semelhanças. Sem esses dados, permanece indefinido se uma eventual anulação de todas as oito perguntas antecipadas alteraria a precisão da prova. Palacios sustenta que o impacto seria mínimo, mas a confirmação depende da conclusão do inquérito e da liberação dos indicadores técnicos.

A Polícia Federal prossegue na apuração para identificar eventuais responsabilidades criminais e dimensionar a extensão das divulgações prévias. Até o momento, não há previsão de alteração adicional no gabarito oficial ou de nova anulação de itens.

Questionado sobre medidas para evitar casos semelhantes, o presidente do Inep afirmou que a autarquia analisa aprimoramentos nos protocolos de segurança dos pré-testes, incluindo redução do intervalo entre a etapa experimental e a aplicação efetiva da prova, além de controles mais rígidos de participação.

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