Rio de Janeiro — Um estudante de 10 anos perdeu totalmente a visão do olho direito depois de ser agredido dentro da Escola Municipal Leonel Azevedo, na zona norte da capital fluminense. O episódio, ocorrido em 18 de novembro durante uma aula de educação física, motivou a abertura de sindicância pela Secretaria Municipal de Educação, que afirma ter tomado conhecimento da ocorrência apenas recentemente.
Agressão ocorreu durante atividade esportiva
Segundo relato da mãe, Lídia Loiola Cardoso, o filho levou um chute e um soco no olho enquanto participava da aula. O impacto provocou lesão irreversível, confirmada por exames médicos. A criança já convivia com glaucoma congênito, condição que, de acordo com a família, o tornava alvo de provocações frequentes entre colegas.
Após o incidente, o aluno relatou fortes dores e perda imediata de visão. Ele foi encaminhado a atendimento de urgência, mas os médicos não conseguiram reverter o dano. Desde então, o menino passou a evitar o ambiente escolar, segundo a mãe, por medo de novas agressões.
Histórico de bullying e denúncias ignoradas
A família afirma que o caso não foi isolado. Lídia Cardoso diz ter registrado múltiplas queixas em órgãos de proteção, como Conselho Tutelar e Central 1746, além de reuniões com a direção da unidade, sem obter solução efetiva. Entre os episódios reportados, constam:
- Queda que resultou em fratura no pé, atribuída pela escola a um acidente, embora colegas apontem empurrão deliberado;
- Empurrão que fez o aluno bater a cabeça no chão e quebrar o nariz;
- Agressão a uma irmã mais nova, que tentou defendê-lo em 2023.
Os conflitos constantes afetaram o desempenho escolar e o bem-estar do estudante, que, mesmo assim, havia se classificado para duas finais de olimpíadas de matemática antes das lesões mais graves. “Procurei ajuda muitas vezes e ninguém me ouviu”, declarou a mãe em entrevista ao telejornal RJ2.
Medidas adotadas pela Secretaria de Educação
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que acompanha a situação, transferiu o aluno apontado como agressor para outra unidade da rede e instaurou sindicância para apurar a conduta da escola e possíveis omissões. A pasta relatou não haver registros formais de episódios anteriores, contrariando as alegações da família.
Imagem: Internet
O órgão acrescentou que o Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares (Niaue) esteve várias vezes na escola durante 2025, promovendo ações de prevenção ao bullying. A secretaria ressaltou que prioriza medidas educativas, mas que casos considerados graves devem envolver apoio policial.
Especialistas cobram protocolos mais rígidos
Organizações dedicadas à proteção da infância alertam que situações de violência física em ambiente escolar exigem resposta imediata e registro formal. Especialistas defendem:
- Implementação de canais de denúncia acessíveis a estudantes e responsáveis;
- Formação continuada de professores para identificar sinais de bullying;
- Acompanhamento psicológico às vítimas e aos agressores;
- Articulação entre escola, famílias e órgãos de proteção para prevenção de novos casos.
Para o Ministério Público, episódios de agressão com lesões graves podem configurar crime de lesão corporal, cabendo investigação policial independente da esfera administrativa.
Perspectivas para o aluno e a família
Após a perda de visão, o estudante passou a necessitar de acompanhamento médico regular e adaptação pedagógica. A mãe busca transferência para outra unidade com estrutura inclusiva. Enquanto aguarda a conclusão da sindicância, a família avalia medidas judiciais por danos morais e materiais.
O caso reforça a discussão sobre segurança nas escolas e a eficácia de políticas públicas para prevenção e enfrentamento do bullying, sobretudo contra estudantes com deficiência ou condições de saúde específicas.





