Mons, Bélgica – 04 de dezembro de 2023. O principal comandante militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte declarou que a aliança precisa estar preparada para responder de forma imediata a ameaças híbridas que visem o território de qualquer Estado-membro.
Alerta do comando supremo
O general da Força Aérea dos Estados Unidos Alexus Grynkewich, atual Comandante Supremo Aliado na Europa, falou com jornalistas no quartel-general da Otan, localizado nos arredores de Mons. Segundo o oficial, cresce a utilização de táticas que combinam meios militares e não militares com o objetivo de desestabilizar adversários sem recorrer a uma invasão convencional.
As chamadas ameaças híbridas englobam ataques cibernéticos, campanhas de desinformação, sabotagem de infraestruturas essenciais, uso de drones e o acionamento de grupos armados irregulares. “É um problema real e podemos antecipar novos episódios”, afirmou. O militar destacou que recentes incidentes na Europa exibem diferentes níveis de gravidade, classificação que vai de atos imprudentes a ações deliberadas.
Durante o encontro, Grynkewich reforçou a importância de identificar publicamente os autores desses ataques. Sem citar detalhes operacionais, o general declarou que a aliança já atribuiu parte das ocorrências à Federação Russa. Para ele, esclarecer a autoria reduz o espaço para narrativas de negação e facilita a coordenação de respostas entre os países aliados.
Estrategia defensiva, postura proativa
Embora a Otan se defina como organização de caráter defensivo, o comandante observou que a aliança estuda maneiras de agir de forma proativa. “Se a Rússia tenta criar dilemas para nós, talvez possamos criar dilemas para eles”, resumiu, indicando que possibilidades de dissuasão estão em análise. O general evitou detalhar quais opções estão sobre a mesa, mas sublinhou que qualquer iniciativa respeitará o mandato de defesa coletiva previsto no Artigo 5.º do tratado.
Questionado sobre o risco de escalada, Grynkewich reiterou que não há intenção ofensiva. Segundo ele, o objetivo reside em proteger população, infraestruturas críticas e integridade territorial dos 31 membros. A abordagem utiliza recursos militares, capacidades de inteligência e mecanismos civis para enfrentar ameaças que se expandem além do domínio bélico tradicional.
Contexto de tensão contínua
O alerta emitido em Mons ocorre num momento marcado por múltiplos incidentes relatados em países europeus. Entre os exemplos citados por autoridades estão interrupções em redes de comunicações, ataques a oleodutos e sobrevoos de drones em áreas sensíveis. Embora investigações nacionais ainda estejam em curso, governos apontam semelhanças de modus operandi que remetem a atores estatais ou a grupos apoiados por Estados.
A Rússia nega de forma reiterada qualquer responsabilidade por ações de sabotagem ou invasões cibernéticas contra infraestrutura ocidental. Moscovo também afirma não possuir planos de atacar a Otan, apesar de a aliança fornecer armamento, informação e assistência logística à Ucrânia desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022.
Imagem: Internet
Para especialistas em defesa, ataques híbridos oferecem baixo custo e elevada ambiguidade, tornando difícil atribuir responsabilidade e desencadear respostas formais. Nesse cenário, a Otan procura consolidar mecanismos que integrem setores militar, privado e governamental, a fim de reduzir vulnerabilidades e garantir resiliência.
Próximos passos da aliança
Grynkewich adiantou que exercícios de simulação envolvendo ameaças híbridas serão ampliados em 2024. Esses treinos abrangem desde a proteção de cabos submarinos até a defesa de redes elétricas e centros de dados. O comandante também mencionou esforços para acelerar o intercâmbio de inteligência entre Estados-membros, permitindo detectar tentativas de sabotagem em estágio inicial.
No âmbito diplomático, representantes da Otan mantêm consultas regulares com a União Europeia, que detém competências sobre muitas das infraestruturas possivelmente visadas. A cooperação inclui partilha de informações, padrões de segurança comuns e planos de contingência para serviços essenciais.
Em paralelo, países aliados analisam a revisão de procedimentos legais para punir atores responsáveis por ataques híbridos. Entre as medidas em discussão estão sanções económicas direcionadas, congelamento de bens e restrições de viagem. Segundo fontes ligadas ao bloco, o objetivo é aumentar o custo de operações clandestinas sem recorrer, necessariamente, a meios militares convencionais.
Visão geral
A declaração do general Alexus Grynkewich confirma a avaliação de que a fronteira entre guerra e paz se tornou menos visível. Ao exigir preparo para responder rapidamente a ameaças híbridas, a Otan sinaliza que qualquer ataque que comprometa a segurança coletiva poderá gerar reação coordenada. A aliança busca equilíbrio entre dissuasão e diplomacia, consciente de que o ambiente de segurança europeu permanecerá desafiante enquanto persistirem disputas geopolíticas e conflitos regionais.





