Ataque de leoa a jovem em João Pessoa revela anos de negligência, diz conselheira

João Pessoa, 30/11/2025 — Gerson de Melo Machado, de 19 anos, morreu após invadir o recinto da leoa Leona no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, na capital paraibana. A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou o rapaz por quase uma década, afirma que a tragédia coroa um histórico prolongado de negligência do poder público no cuidado ao jovem e à família.

Criança sem acolhimento e diagnóstico tardio

Segundo Verônica Oliveira, a trajetória de Gerson começou a se deteriorar ainda na infância. Ele foi afastado da mãe, diagnosticada com esquizofrenia, a mesma condição da avó materna. Aos 10 anos, o menino chegou ao Conselho Tutelar após fugir sozinho de um abrigo e caminhar pela margem de uma estrada. Quatro irmãos foram adotados; ele não encontrou família interessada em recebê-lo, relatou a conselheira.

O diagnóstico formal de deficiência intelectual, transtorno de conduta e esquizofrenia só apareceu em 2023, quando Gerson já tinha 18 anos. O laudo recomendava tratamento multidisciplinar em regime integral, medida que nunca foi implementada. Sem acompanhamento adequado, o jovem manteve um desejo fixo: tornar-se domador de leões e viajar para a África. Em um episódio anterior, ele chegou a ser encontrado no trem de pouso de um avião, acreditando que alcançaria o continente africano.

Escalada, invasão e morte em poucos minutos

No dia do ataque, Gerson entrou no parque como visitante e, segundo a prefeitura de João Pessoa, escalou uma parede de mais de seis metros. Depois, ultrapassou as grades de segurança e usou uma árvore para acessar o recinto de Leona. Visitantes registraram a sequência em vídeo: o rapaz desce pelo tronco até tocar o chão na área restrita. A leoa reage de imediato, alcança o intruso e fere-o no pescoço. A morte ocorreu no local, causada por choque hemorrágico.

A administração municipal classificou o episódio como imprevisível. A Polícia Civil investiga se houve intenção de suicídio, hipótese levantada pela dinâmica do incidente e pelo histórico clínico do jovem. Para Verônica Oliveira, porém, Gerson estava em surto psicótico e não tinha noção do risco que corria. A conselheira sustenta que o desfecho violento “não começou na jaula, mas anos antes, quando o adolescente foi sendo deixado de lado, repetidamente”.

Consequências para o parque e para a leoa

Após o ataque, o Parque Zoobotânico Arruda Câmara foi fechado temporariamente para vistoria das estruturas de segurança e apoio psicológico aos funcionários. Leona apresentou sinais de stress, mas não recebeu tranquilizantes. A equipa técnica informou que o animal apenas reagiu de forma instintiva à invasão. A direção descarta qualquer hipótese de sacrifício e mantém a leoa sob monitorização.

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Imagem: Internet

O episódio reacendeu o debate sobre protocolos de contenção em zoológicos e sobre a rede de proteção a pessoas com transtornos mentais. Entidades ligadas à infância e juventude cobram mais vagas em unidades de saúde mental e acompanhamento sistemático de jovens em situação de vulnerabilidade.

Enquanto as investigações prosseguem, a conselheira Verônica Oliveira segue a divulgar o caso nas redes sociais. Para ela, a morte do rapaz evidencia falhas sucessivas no acolhimento institucional: “Todo o poder público falhou com Gerson e com a família”, declarou no vídeo que viralizou após o incidente.

O inquérito da Polícia Civil deverá ouvir funcionários do parque, familiares, profissionais de saúde e representantes do Conselho Tutelar. A prefeitura não apresentou prazo para a reabertura do zoológico.

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