Quem disse que apenas crianças aprendem rápido? O jornalista e escritor Tom Vanderbilt decidiu pôr essa crença à prova quando, aos 39 anos, dedicou um ano inteiro a dominar novas competências — do xadrez ao surfe — e investigar a ciência por trás da aprendizagem na vida adulta. O projeto originou o livro “Beginners”, que reúne suas experiências pessoais e estudos recentes sobre neuroplasticidade.
Um ano de desafios práticos
Vanderbilt acompanhava frequentemente a filha em aulas de piano, taekwondo e futebol. Enquanto ela se dedicava, ele apenas esperava. A constatação de que exigia dela algo que não fazia por si mesmo motivou a mudança: aprender várias atividades do zero, sem objetivo competitivo, apenas pelo prazer de evoluir.
Entre as habilidades escolhidas estavam canto coral, desenho, malabarismo, surfe e partidas regulares de xadrez. O autor não buscava troféus; queria comprovar que adultos continuam capazes de progredir rapidamente quando adotam a chamada “mentalidade de principiante”.
O que a ciência indica sobre aprender depois dos 30
Estudos citados por Vanderbilt confirmam que o cérebro mantém neuroplasticidade mesmo após a infância, ajustando-se a novos desafios. Pesquisas mostram que, embora a capacidade de absorver padrões implícitos diminua após os 12 anos, adultos podem compensar com estratégias deliberadas.
Três princípios surgem nos relatos do autor:
1. Prática deliberada: analisar erros e acertos em vez de repetir movimentos de forma automática. No xadrez, discutir derrotas com um tutor ou estudar partidas de mestres revelou-se mais eficaz que jogar partidas rápidas online.
2. Variação de contexto: trocar objetos no malabarismo, alterar a altura dos lançamentos ou executar a tarefa sentado e andando. Essa “repetição sem repetição” obriga o cérebro a ajustar padrões e a lidar com imprevistos.
3. Ensinar para aprender: saber que terá de explicar o conteúdo a outra pessoa aumenta foco e curiosidade, facilitando a consolidação da memória. Vanderbilt aplicou a tática ao incluir a filha em quase todos os treinos.
Benefícios cognitivos além da habilidade adquirida
Pesquisadores acompanharam adultos de 58 a 86 anos inscritos em cursos simultâneos de espanhol, música, escrita e pintura. Após alguns meses, os participantes não só progrediram nas disciplinas escolhidas como alcançaram resultados em testes cognitivos equivalentes a pessoas três décadas mais jovens.
Imagem: Internet
Múltiplas habilidades, e não apenas uma, parecem potencializar esses ganhos. Para Vanderbilt, funciona como “treino intervalado” mental: cada início de aprendizagem reconfigura circuitos cerebrais, estimulando flexibilidade e criatividade.
Dados mencionados pelo autor indicam ainda correlação entre multiplicidade de interesses e inovação. Laureados com Prémio Nobel, por exemplo, demonstram propensão maior a praticar atividades artísticas fora da área de atuação principal.
Superar barreiras emocionais
Entre todas as experiências, cantar foi a mais desconfortável para Vanderbilt. Expor a voz a desconhecidos exigiu enfrentar medo de julgamento. Ao superar o nervosismo, descobriu que o canto oferecia sensação imediata de bem-estar, motivando-o a ingressar num coral de Britpop em Nova Iorque.
O autor aconselha começar por algo facilmente integrado à rotina. Ele lembra que a evolução no desenho, por exemplo, ocorreu no tempo que muitas pessoas gastam vendo uma série de TV. A percepção de que grandes avanços podem caber em curtos períodos reduz a resistência inicial.
Humildade intelectual como motor do progresso
O processo de recomeçar em terrenos desconhecidos reforçou, segundo Vanderbilt, a importância de reconhecer limitações e manter a mente aberta. Diversos estudos citados no livro associam essa postura à melhoria da tomada de decisão e da criatividade — competências valorizadas em ambientes de rápida mudança.
Os resultados do experimento pessoal e as evidências científicas que o sustentam indicam que nunca é tarde para aprender. Adotar métodos estruturados, variar a prática e compartilhar o conhecimento com outros podem transformar o esforço de aquisição de uma habilidade em ganhos cognitivos duradouros.





