Brasileira lidera programa hidrológico da Unesco pela primeira vez

A engenheira civil Cristiane Collet Battiston, diretora da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), foi eleita nesta sexta-feira, 28, para a presidência do Conselho do Programa Hidrológico Intergovernamental (PHI) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). É a primeira vez, em 50 anos de existência do colegiado, que uma mulher assume o comando desse fórum de cooperação internacional em recursos hídricos.

Eleição marca nova etapa para cooperação internacional em água

O PHI constitui a principal plataforma da Unesco para promover políticas públicas baseadas em evidências científicas na gestão da água. O programa reúne representantes dos Estados-membros em projetos de pesquisa, formação de capacidades e troca de tecnologias voltadas à segurança hídrica e ao desenvolvimento sustentável.

A escolha de Battiston ocorre num contexto em que a água ganhou destaque nas discussões globais após a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém. Durante o encontro, governos e especialistas reforçaram que a disponibilidade hídrica é decisiva para estratégias de mitigação e adaptação às alterações do clima. Assim, o novo mandato é visto como oportunidade para intensificar a cooperação científica e integrar a temática da água nas agendas climáticas nacionais.

A presidência do Conselho tem duração até 2027. Nesse período, Battiston será responsável por coordenar as reuniões do colegiado, definir prioridades de trabalho e acompanhar a execução dos programas regionais. As decisões abrangem desde a implementação de sistemas de monitoramento hidrológico até iniciativas de proteção de aquíferos transfronteiriços.

Trajetória da engenheira reforça representatividade feminina na ciência

Natural do Rio Grande do Sul, Cristiane Battiston é graduada em Engenharia Civil, possui mestrado e doutorado em Hidrologia e Sistemas Hídricos e acumula mais de duas décadas de experiência no setor público. Antes de ingressar na ANA, atuou no Ministério do Planejamento e Orçamento e na Casa Civil da Presidência da República, onde participou da formulação de políticas de infraestrutura e de gestão territorial.

Em setembro deste ano, a especialista assumiu assento na Diretoria Colegiada da ANA, órgão responsável pela regulação e fiscalização do uso da água e dos serviços de saneamento básico no Brasil. Durante a carreira, coordenou estudos sobre disponibilidade hídrica em bacias estratégicas, elaborou diretrizes para outorga de uso da água e participou de grupos de trabalho internacionais voltados à adaptação climática.

A eleição para a presidência do PHI representa um marco adicional para a hidrologia e para a representação feminina em organismos multilaterais. De acordo com dados da Unesco, as mulheres ocupam menos de 30% dos cargos de liderança em ciências exatas e engenharias. O resultado, portanto, sinaliza avanços na busca por maior equilíbrio de género em posições de tomada de decisão.

Desafios imediatos e prioridades até 2027

Entre os principais desafios do novo mandato está a ampliação de redes de observação hidrológica, especialmente em regiões vulneráveis a secas e enchentes. Outro foco será fortalecer a transferência de tecnologia para Estados-membros que ainda não dispõem de sistemas modernos de previsão de cheias, essenciais para reduzir riscos a populações ribeirinhas.

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O Conselho também pretende intensificar a colaboração com universidades e centros de pesquisa na formação de profissionais especializados. A meta é criar programas de bolsas e intercâmbio que estimulem estudos sobre gestão integrada de recursos hídricos, qualidade da água e impacto das mudanças climáticas nos ciclos hidrológicos.

No plano diplomático, Battiston deverá articular consensos em torno do uso de aquíferos compartilhados, tema sensível em regiões onde rios e lençóis freáticos ultrapassam fronteiras políticas. A estratégia inclui promover diálogos entre países e apoiar acordos de cooperação que estabeleçam regras para captação, monitoramento e conservação desses reservatórios.

Implicaç​ões para o Brasil

A presença da diretora da ANA na liderança do PHI pode favorecer a projeção internacional das iniciativas brasileiras de gestão hídrica. O país abriga 12% da água doce superficial do planeta e desenvolve projetos de monitoramento de bacias, revitalização de rios e reúso de efluentes. Esses programas poderão servir de referência para outras nações, ao mesmo tempo em que o Brasil terá acesso facilitado a boas práticas e financiamento de pesquisas globais.

Especialistas avaliam que a eleição fortalece a imagem do país em fóruns ambientais e abre caminho para maior participação brasileira em grupos técnicos da Unesco. A expectativa é que o intercâmbio de conhecimento contribua para aprimorar políticas internas de segurança hídrica, sobretudo em regiões suscetíveis a eventos extremos.

O mandato de Cristiane Collet Battiston à frente do Conselho do Programa Hidrológico Intergovernamental vai até 2027. Até lá, a engenheira terá a missão de conduzir iniciativas que buscam garantir água de qualidade e em quantidade suficiente para populações de todo o mundo, enquanto enfrenta os desafios criados pela intensificação das mudanças climáticas e pelo crescimento demográfico.

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