A Dívida Pública Federal (DPF) registou nova alta em outubro, alcançando R$ 8,253 trilhões. O valor representa aumento de 1,62% em relação a setembro, quando o estoque somava R$ 8,122 trilhões. O movimento foi impulsionado, sobretudo, pela emissão de títulos atrelados à taxa Selic e pela apropriação de juros.
Emissões, resgates e impacto dos juros
A componente interna da dívida, denominada Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi), subiu 0,31% e encerrou o mês em R$ 7,948 trilhões. Em outubro, o Tesouro Nacional emitiu R$ 162,59 bilhões em títulos e resgatou R$ 119,86 bilhões, resultando em emissão líquida de R$ 41,38 bilhões. Além disso, houve apropriação de R$ 85,23 bilhões em juros — mecanismo pelo qual a correção monetária contratual é incorporada ao principal da dívida.
Com a Selic fixada em 15% ao ano, os encargos financeiros têm pressionado o endividamento público. A procura por papéis indexados à taxa básica permanece elevada, pois oferecem proteção em cenário de juros elevados.
No mercado externo, a Dívida Pública Federal externa (DPFe) avançou 1,17%, atingindo R$ 305,06 bilhões. A variação refletiu a valorização de 1,24% do dólar frente ao real no período.
Composição do estoque e prazos
A distribuição dos papéis federais sofreu alterações pontuais entre setembro e outubro:
- Títulos ligados à Selic: participação passou de 47,47% para 48,19%;
- Títulos indexados à inflação: de 26,81% para 26,68%;
- Prefixados: de 22,02% para 21,44%;
- Vinculados ao câmbio: de 3,70% para 3,68%.
Com a recente preferência dos investidores por rentabilidade indexada à Selic, o Tesouro aproxima-se do intervalo previsto no Plano Anual de Financiamento (PAF) para 2025, que projeta fatia entre 48% e 52% para esse tipo de título.
O prazo médio da DPF recuou ligeiramente, de 4,16 para 4,14 anos, indicando ritmo um pouco mais rápido de rolagem. Prazos mais longos sinalizam maior confiança dos agentes de mercado na capacidade de pagamento do governo; portanto, a redução, embora discreta, é observada atentamente pelos gestores da dívida.
Colchão de liquidez garante 8,8 meses de vencimentos
Depois de queda em setembro, o chamado “colchão” da dívida — reserva financeira destinada a amortizar títulos em momentos de instabilidade — voltou a crescer. O saldo passou de R$ 1,032 trilhão para R$ 1,048 trilhão, suficiente para cobrir 8,81 meses de vencimentos programados. Nos próximos 12 meses, está previsto o pagamento de R$ 1,434 trilhão em títulos federais.
Imagem: Últimas Notícias
Quem detém a dívida
A distribuição dos detentores da DPMFi permaneceu relativamente estável, mas com ligeiro aumento da participação estrangeira. A composição em outubro ficou assim:
- Instituições financeiras nacionais: 32,21%;
- Fundos de pensão: 22,97%;
- Fundos de investimento: 21,21%;
- Investidores não residentes: 10,46%;
- Demais grupos (incluindo governo, seguradoras e outros): 13,2%.
A fatia dos não residentes avançou ante os 10,19% verificados em setembro, aproximando-se novamente dos níveis observados no fim de 2024, quando alcançou 11,2%. O incremento sugere apetite externo por títulos brasileiros, mesmo com a volatilidade verificada nos mercados internacionais.
Perspectivas até 2025
Conforme o PAF revisto em setembro, o Tesouro projeta que o estoque total da dívida ficará entre R$ 8,5 trilhões e R$ 8,8 trilhões até o encerramento de 2025. Para cumprir a meta, a estratégia passa por:
- Manter o ritmo de emissões líquidas positivas;
- Gerir a composição entre indexadores para reduzir custos ao longo do tempo;
- Preservar o colchão de liquidez em patamar seguro para atravessar eventuais choques de mercado.
Pela ótica dos investidores, os títulos prefixados tendem a ganhar espaço quando a percepção de estabilidade macroeconómica se consolida, pois oferecem rendimentos conhecidos desde a aplicação. Entretanto, em ambiente de incerteza ou expectativa de juros mais elevados, papéis atrelados à Selic ou à inflação são preferidos, como demonstrado pela evolução da carteira em 2025.
Em suma, o resultado de outubro mantém a trajetória de crescimento gradual da dívida pública, influenciada pelo custo mais alto do serviço da dívida e pela necessidade de financiar despesas do governo. A gestão ativa do perfil de vencimentos e a manutenção de reservas financeiras buscam minimizar riscos e assegurar capacidade de pagamento no médio prazo.





