Enem 2025 em Belém inclui questões semelhantes às de material vendido por estudante

Educação e Tecnologia

Dois itens da prova de Linguagens e Ciências Humanas aplicada no domingo (30) aos candidatos da Região Metropolitana de Belém apresentaram conteúdo considerado próximo ao de apostilas, lives e listas de exercícios do estudante de medicina Edcley Teixeira, de Sobral (CE). A coincidência reacendeu suspeitas de acesso prévio ao banco de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025.

Aplicação exclusiva para o Pará

Por causa da Conferência do Clima (COP30), realizada na capital paraense na primeira quinzena de novembro, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) adiou a aplicação dos cadernos de Linguagens e Ciências Humanas para os municípios de Belém, Ananindeua e Marituba. Enquanto o restante do país realizou essa etapa em 9 de novembro, os participantes dessas cidades só prestaram a prova no dia 30.

Após a divulgação extraoficial dos cadernos, estudantes passaram a comparar o conteúdo com o material comercializado por Edcley Teixeira. O g1 identificou duas questões com temas próximos, recursos visuais parecidos e vocabulário semelhante. Embora as semelhanças sejam menos explícitas do que as observadas em oito itens das áreas de Ciências da Natureza e Matemática da aplicação principal — três deles já anulados —, o episódio levantou questionamentos sobre a isonomia do exame.

Exemplos de coincidência

O primeiro caso envolve uma charge que compara o tempo médio de permanência de alunos na escola. O item do Enem traz o enunciado em espanhol, enquanto a versão nas apostilas de Edcley aparece em português. Apesar do idioma diferente, a situação-problema e o sentido da alternativa correta são idênticos.

Já o segundo exemplo aborda traduções de clássicos da literatura mundial para línguas indígenas. Na prova paraense, o tema foi tratado na parte de espanhol e mencionou obras como “Patinho Feio” e “O Pequeno Príncipe”. No material de Edcley, a discussão concentra-se apenas no livro de Antoine de Saint-Exupéry, mas utiliza o mesmo gancho cultural — a adaptação de títulos consagrados a contextos originários.

Como o material foi obtido

A investigação jornalística aponta que Edcley Teixeira descobriu a utilização de um concurso promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) como pré-teste para o banco do Enem. O certame, destinado a universitários do primeiro ano, teria servido para medir o grau de dificuldade de itens que, posteriormente, poderiam integrar o exame nacional.

Segundo relatos, o estudante cearense pagou para que participantes desse concurso decorassem o maior número possível de questões e depois repassassem o conteúdo. Com base nesse material, Teixeira montou apostilas, realizou transmissões ao vivo e vendeu pacotes a candidatos ao Enem.

Reações dos candidatos

Candidatos que realizaram a reaplicação em Belém afirmam que qualquer proximidade entre as perguntas do exame e o material comercializado já configura quebra de isonomia. Nas redes sociais, participantes relataram sensação de injustiça e pressa por esclarecimentos.

Enem 2025 em Belém inclui questões semelhantes às de material vendido por estudante - Imagem do artigo original

Imagem: Internet

Para estudantes, a probabilidade de coincidência em áreas exatas é mínima, o que reforçou a pressão por investigação na aplicação principal. Em Humanas, embora temas como Adam Smith ou inclusão esportiva sejam recorrentes, concorrentes sustentam que a repetição de estruturas, charges e trechos de enunciado ultrapassa o limite do acaso.

Posição do Inep e próximos passos

O Inep anulou três das oito questões de Ciências da Natureza e Matemática que reproduziam números idênticos aos dos materiais de Edcley, mas manteve válido o restante das provas. Em nota anterior, o instituto afirmou que “não houve prejuízo aos candidatos” e que acompanha as apurações da Polícia Federal.

Até o momento, o órgão não se pronunciou especificamente sobre as semelhanças identificadas na reaplicação de Belém. A Polícia Federal, responsável por investigar possíveis violações de sigilo de prova, ainda não divulgou resultados preliminares.

Especialistas em avaliação educacional lembram que itens selecionados para reaplicações costumam vir do mesmo banco original, o que não explica, entretanto, a antecedência do conteúdo divulgado por Teixeira. O episódio reforça o debate sobre a segurança da base de dados do Enem e o impacto de vazamentos na competitividade do processo seletivo.

Enquanto aguardam definições, candidatos pedem transparência e revisão das notas. Com mais de 3,9 milhões de inscritos em todo o país, o exame é porta de entrada para programas federais como Sisu, Prouni e Fies. Qualquer decisão que altere o resultado poderá repercutir em calendários de universidades públicas e privadas.

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