Estudo mapeia transmissões terrestres e indica rota mais eficiente para buscar sinais alienígenas

Uma equipa da Universidade Estadual da Pensilvânia, em colaboração com o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA, analisou duas décadas de histórico da Deep Space Network (DSN) e delineou um mapa dos principais caminhos percorridos pelas transmissões de rádio da Terra. O trabalho, publicado na revista Astrophysical Journal Letters, propõe que a melhor estratégia para localizar sinais de outras civilizações passe por observar regiões do espaço onde a própria humanidade emite mais frequentemente.

Rede de Espaço Profundo concentra sinais num plano estreito

A DSN mantém antenas na Califórnia (EUA), em Madrid (Espanha) e em Camberra (Austrália) para comunicar com sondas em órbita ou a viajar além do Sistema Solar. Entre 2005 e 2025, o tempo total de operação dessas estações equivale a 92 anos, de acordo com o levantamento liderado pelo investigador Pinchen Fan.

O cruzamento dos registos revelou que 79 % de todas as transmissões diretas ao espaço profundo permanecem dentro de uma faixa de apenas 5 graus em torno do plano orbital da Terra, também conhecido como eclíptica. Como os planetas do Sistema Solar compartilham, em grande parte, esse mesmo plano, a maior parte dos comandos enviados a naves interplanetárias segue trajetórias semelhantes, criando uma faixa bem definida de radiação de rádio.

Mars ocupa lugar de destaque nesse tráfego. Nos períodos em que Terra e Marte se alinham (conjunções), o ciclo de trabalho — fração de tempo em que a antena está ativa — atinge 77 % a apenas dois minutos de arco do planeta vermelho, o que corresponde a cerca de nove meses por ano. A concentração de sinais nesse intervalo torna esse alinhamento 400 000 vezes mais favorável para eventual deteção por parte de observadores externos do que uma direção aleatória do céu.

Implicações para a procura de vida inteligente

Os autores argumentam que o padrão observado deve orientar as futuras investigações de tecnomarcadores, isto é, indícios tecnológicos de civilizações extraterrestres. Como os nossos sinais se agrupam ao longo da eclíptica, exoplanetas que transitem nesse mesmo plano teriam maior probabilidade de captar emissões humanas. Em contrapartida, esses mundos também se tornam alvos prioritários para radiotelescópios terrestres à procura de emissões semelhantes provenientes de outras culturas tecnológicas.

Além de Marte, picos menores de atividade apareceram nas direções de Mercúrio, Júpiter e Saturno, refletindo períodos mais intensos de comunicação com sondas que orbitam ou sobrevoam esses corpos. O estudo calcula que, com a sensibilidade atual dos radiotelescópios, um sinal típico da DSN poderia ser detetado até uma distância de 7 parsecs, o equivalente a 23 anos-luz. Dentro desse raio existem 128 sistemas estelares catalogados, qualquer um potencialmente capaz de hospedar observadores avançados.

Caso outras civilizações mantenham redes de comunicação comparáveis à DSN, as transmissões resultantes também se concentrariam em planos orbitais específicos, formando zonas preferenciais para a pesquisa de radiomarcadores. Jason Wright, coautor e diretor do Centro de Inteligência Extraterrestre da instituição norte-americana, recorda que a humanidade está apenas no início da exploração espacial e que a intensidade das emissões tende a crescer.

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Imagem: Tecnologia & Inovação

Perspetivas com novos telescópios

O lançamento do telescópio espacial Nancy Grace Roman, programado para a segunda metade desta década, deverá expandir o catálogo de exoplanetas em até cem mil objetos. A maior base de dados permitirá cruzar a lista de planetas que transitam diante das suas estrelas com a banda de 5 graus onde as transmissões humanas são mais densas, refinando ainda mais os pontos de observação.

Embora lasers também possam servir como meio de comunicação interplanetária, a equipa observa que feixes laser são altamente direcionais e, portanto, pouco prováveis de serem captados por acaso. As ondas de rádio, por apresentarem feixes mais largos e um histórico extenso de uso, continuam a representar os marcadores tecnológicos mais acessíveis.

Ao rastrear as nossas próprias rotas de comunicação, o estudo fornece um guião quantitativo que liga horários e posições celestes a probabilidades concretas de deteção. Em vez de varrer o céu indiscriminadamente, projetos de escuta podem concentrar recursos nos períodos em que a Terra está a transmitir de forma mais intensa e nas direções em que essa emissão se mantém quase contínua.

Os investigadores reconhecem que a metodologia não garante a descoberta de inteligência extraterrestre, mas acreditam que a abordagem aumenta a eficiência da procura e estabelece um quadro mensurável para futuras missões. Assim, compreender como a Terra já se faz ouvir no cosmos torna-se uma ferramenta valiosa para localizar quem possa estar a escutar.

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