Jornalistas protestam na Câmara contra censura e violência de policiais legislativos

Ultimas Notícias

Um grupo de profissionais de imprensa realizou, nesta quarta-feira (10), um ato no plenário da Câmara dos Deputados para denunciar episódios de censura e agressões sofridas por jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas durante sessão na véspera. O protesto envolveu dezenas de repórteres que exigiram respeito ao exercício da atividade e responsabilização dos envolvidos na ação policial.

O que motivou o ato

Na terça-feira (9), parlamentares discutiam a retirada à força do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) da cadeira da presidência da Casa. Quando agentes da Polícia Legislativa realizaram a remoção, o sinal da TV Câmara, que transmitia a reunião ao vivo, foi interrompido. Ao mesmo tempo, profissionais de comunicação que cobriam a sessão foram expulsos do plenário.

Imagens registradas no local mostram policiais legislativos empurrando, puxando e desferindo cotoveladas contra repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. Vários profissionais relataram lesões leves e alguns precisaram de atendimento médico. De acordo com testemunhas, equipamentos foram derrubados e o acesso à área destinada à imprensa foi bloqueado.

Reações e providências

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) classificou o episódio como violação direta à liberdade de imprensa e informou que ingressará com três ações judiciais. A primeira, na Procuradoria-Geral da República, denuncia o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), por crime de responsabilidade. A segunda será enviada à Relatoria Especial para Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA. A terceira representação será encaminhada à Comissão de Ética da própria Câmara por quebra de decoro parlamentar e infração disciplinar.

A entidade destacou que a interrupção da transmissão oficial e a retirada forçada de jornalistas configuram censura e comprometem a transparência dos trabalhos legislativos.

Na manhã desta quarta-feira, representantes da categoria solicitaram reunião com o presidente da Casa. Hugo Motta não compareceu e enviou uma assessora para ouvir as demandas. Após o encontro, os profissionais reiteraram o pedido de identificação dos agentes que atuaram na sessão e exigiram garantias de livre circulação na cobertura de atividades parlamentares.

Posicionamento oficial

Na noite de terça-feira, por meio de publicação em rede social, o presidente da Câmara afirmou ter determinado a "apuração de possíveis excessos em relação à cobertura da imprensa". Ele não mencionou prazos nem detalhou que instância conduzirá a investigação interna.

A Polícia Legislativa não divulgou nota sobre a atuação de seus agentes. O comando do órgão foi cobrado pelos sindicatos de jornalistas para apresentar relatório das ações de controle adotadas no plenário.

Jornalistas protestam na Câmara contra censura e violência de policiais legislativos - Últimas Notícias

Imagem: Últimas Notícias

Contexto de liberdade de imprensa

Os ataques relatados nesta semana ocorrem em cenário de alertas constantes de entidades nacionais e internacionais sobre riscos à segurança de comunicadores no país. Relatórios recentes apontam aumento de agressões físicas e tentativas de cerceamento do trabalho jornalístico em espaços públicos e instituições de governo.

Quando o sinal de TV institucional é cortado, diminui-se a visibilidade do que acontece em votações e debates, reduzindo a prestação de contas à sociedade. Transparência e presença da imprensa são consideradas salvaguardas contra abusos de poder, segundo especialistas em direitos democráticos ouvidos por organizações da sociedade civil.

Próximos passos

A ABI pretende protocolar as ações judiciais ainda esta semana. Paralelamente, coletivos de jornalistas estão organizando audiências públicas para discutir protocolos de segurança dentro do Congresso Nacional. A Câmara deverá definir nos próximos dias a composição da equipe responsável pela apuração interna dos fatos.

Enquanto isso, repórteres que cobrem o Legislativo relatam preocupação com eventuais restrições de acesso em futuras sessões. Eles defendem a adoção de medidas claras, como identificação visível de todos os agentes de segurança e manutenção ininterrupta das transmissões oficiais.

O ato de hoje foi encerrado após cerca de uma hora, sem incidentes. Os manifestantes permaneceram de braços dados, empunhando câmeras e microfones como símbolo de resistência. Eles anunciaram que novas mobilizações podem ocorrer caso não haja resposta às reivindicações.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *