Levante Mulheres Vivas reúne milhares em Brasília e cobra ação contra feminicídios

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Nem a chuva intensa que caiu na tarde de domingo (7) afastou a multidão que se concentrou na Torre de TV, área central de Brasília, para o ato Levante Mulheres Vivas. Convocada por dezenas de organizações feministas, a manifestação ocorreu simultaneamente em várias capitais e denunciou o aumento dos feminicídios no país e a alegada omissão do poder público na prevenção e no combate à violência de gênero.

Protesto nacional cobra ação do Estado

De acordo com as organizadoras, milhares de pessoas participaram do ato na capital federal, entre elas representantes de movimentos sociais, artistas, parlamentares e integrantes do governo. A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e a primeira-dama Janja Lula da Silva estiveram presentes, assim como outras lideranças e deputadas federais.

No palco montado junto ao centro de artesanato da Torre, discursos e intervenções artísticas destacaram a necessidade de políticas públicas efetivas. A rimadora Elisandra Lis Martins, 31 anos, moradora do Itapoã e integrante do coletivo Batalha das Gurias, sintetizou o sentimento do ato ao afirmar que “nem a morte irá calar” as mulheres vítimas de violência. Ao microfone, ela relacionou gênero, raça e classe social às dificuldades enfrentadas por mulheres nas periferias.

A socióloga Vanessa Hacon, do Coletivo Mães na Luta, criticou a suposta negligência do sistema de Justiça em conceder medidas protetivas. Segundo ela, estereótipos de gênero ainda influenciam decisões judiciais, resultando em arquivamentos prematuros de denúncias. “As mulheres saem de casa para escapar da violência doméstica e encontram nova violência nos tribunais”, afirmou.

Casos recentes intensificam pressão

A série de feminicídios ocorridos nas últimas semanas motivou a convocação do Levante. No fim de novembro, Tainara Souza Santos teve as pernas mutiladas após ser atropelada e arrastada por cerca de um quilómetro em Santa Catarina; o motorista Douglas Alves da Silva foi detido. No Rio de Janeiro, duas servidoras do Cefet-RJ foram mortas a tiros por um colega, que se suicidou em seguida. Já em Brasília, o corpo carbonizado da cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos, 25 anos, foi encontrado na sexta-feira (5); o soldado Kelvin Barros da Silva confessou o crime.

Dados do Mapa Nacional da Violência de Gênero mostram que 3,7 milhões de brasileiras sofreram ao menos um episódio de violência doméstica nos últimos 12 meses. Em 2024, o Brasil registrou 1.459 feminicídios — média de quatro mortes por dia. Até o início de dezembro de 2025, mais de 1.180 casos já haviam sido notificados.

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Imagem: Últimas Notícias

Educação, orçamento público e o papel dos homens

Entre faixas com frases como “Feminismo é revolução” e “Mulheres Vivas”, ativistas citaram o patriarcado como raiz estrutural dos crimes. Para Leonor Costa, do Movimento Negro Unificado, a sociedade precisa reconhecer que a centralização histórica do poder nos homens favorece a violência de gênero. Ela defendeu políticas educacionais que combatam estereótipos desde a infância.

A escritora e cineasta Renata Parreira, representante do Levante Feminista contra o Feminicídio, Lesbocídio e Transfeminicídio, destacou a importância de envolver os homens no debate sobre masculinidade. “É preciso convocá-los como aliados”, afirmou. Renata também cobrou ampliação do orçamento público para casas de acolhimento, formação de equipes especializadas e produção de indicadores que orientem políticas de prevenção.

O recorte económico foi levantado pela empreendedora Aline Karina Dias, 36 anos, líder do projeto de afroturismo Sebas Turística, em São Sebastião. Na avaliação dela, independência financeira pode romper ciclos de violência. “Muitas mortes acontecem porque faltam emprego, moradia e renda para que as mulheres deixem relações abusivas”, disse.

Manifestação encerra com palavra de ordem

Após mais de três horas de discursos, poesia e apresentações musicais, os participantes repetiram a palavra de ordem “Mulheres Vivas” e prometeram manter a mobilização até que o Estado implemente medidas de proteção adequadas. Mesmo com o tempo instável, a concentração permaneceu numerosa até o fim da tarde. As organizações prometem divulgar, nos próximos dias, um documento com reivindicações formais, entre elas a execução integral da Lei Maria da Penha, a aceleração dos julgamentos de feminicídio e a criação de centros integrados de atendimento 24 horas.

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