A procura crescente por ferramentas de Inteligência Artificial (IA) levou várias empresas de tecnologia a acelerar o desenvolvimento de dispositivos concebidos para aproximar o utilizador desses recursos. Mesmo com iniciativas recentes — como o Rabbit R1 e o Humane AI Pin — a tentar criar uma nova categoria de produtos, nenhuma alcançou aceitação ampla. Ainda assim, projetos similares continuam em curso, a exemplo do hardware que está a ser preparado pela OpenAI em parceria com o designer Jony Ive, conhecido pelo trabalho no iPhone.
Corrida por hardware de Inteligência Artificial
Empresas de diferentes segmentos analisam como a IA generativa pode ser integrada ao quotidiano dos consumidores. A estratégia mais comum passa por lançar aparelhos dedicados, que prometem acesso mais rápido a assistentes baseados em modelos de linguagem. No entanto, o desempenho comercial de propostas recentes não validou essa abordagem. O Rabbit R1, apresentado como um assistente de bolso, e o Humane AI Pin, concebido para vestir na lapela, enfrentaram críticas sobre preço, autonomia de bateria e utilidade prática.
Apesar das dificuldades, a indústria mantém o interesse. A OpenAI, responsável pelo ChatGPT, trabalha num protótipo físico que pretende simplificar as interações com a sua plataforma. O projeto conta com a liderança de Jony Ive e tenta aplicar ao universo da IA o conceito de design minimalista que marcou os dispositivos da Apple durante anos.
Visão da Logitech sobre o mercado
Em entrevista à Bloomberg, a diretora-executiva da Logitech, Hanneke Faber, argumentou que “gadgets de IA são soluções para um problema que não existe”. Segundo a gestora, os smartphones já concentram as principais funcionalidades requeridas pelo público, dispensando investimento adicional num aparelho exclusivo para IA ou o pagamento de assinaturas extras. Faber entende que, enquanto o telemóvel continuar a cumprir essa função de forma eficaz, a procura por hardware especializado permanecerá limitada.
Isso não significa, contudo, que a empresa ignore o potencial da tecnologia. Faber frisou que a Logitech “é uma grande defensora da Inteligência Artificial” e avalia constantemente formas de incorporá-la ao portfólio de periféricos. A companhia desenvolve mouses, teclados, webcams e acessórios de áudio que podem beneficiar-se de recursos assistidos por IA, como ajustes automáticos de imagem e som ou softwares que otimizam a produtividade do utilizador.
A executiva reconheceu a possibilidade de, no futuro, surgir uma necessidade real para um dispositivo dedicado, caso as aplicações de IA ultrapassem as capacidades dos smartphones. Até lá, a estratégia da Logitech permanece centrada na melhoria dos produtos existentes, em vez de apostar num formato de hardware que ainda não demonstrou demanda consistente.
Desafios para a adoção de novos dispositivos
Analistas de mercado identificam vários obstáculos para a popularização de gadgets de IA. O primeiro é o custo: componentes avançados de processamento, telas miniaturizadas e conectividade permanente encarecem o produto final. O segundo envolve a conveniência, já que os consumidores relutam em carregar mais um equipamento no dia a dia. Por fim, há a questão das assinaturas: certos serviços exigem pagamento mensal para desbloquear funcionalidades completas, algo que pode afastar potenciais compradores.
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Outra barreira é a sobreposição de funções com o smartphone. Os modelos de linguagem mais populares, como GPT-4, já estão integrados em aplicações móveis capazes de responder a comandos de voz ou texto. Sem um ganho claro em desempenho ou experiência, convém aos utilizadores manter o dispositivo que já possuem.
Perspectivas para o setor
O posicionamento da Logitech reflete uma cautela crescente entre fabricantes de acessórios. Em vez de apostar num hardware inteiramente novo, muitas empresas optam por adicionar suporte nativo à IA nos produtos que já têm aceitação consolidada. A estratégia reduz riscos e permite lançar recursos incrementais, como perfis de configuração inteligente, transcrição automática e filtros de ruído alimentados por modelos de machine learning.
Embora a opinião de Faber sinalize ceticismo, o desenvolvimento liderado pela OpenAI e por figuras conceituadas do design sugere que o debate está longe de encerrado. Caso surjam casos de uso irresistíveis — por exemplo, tradução simultânea sem dependência de rede ou execução local de modelos complexos —, o interesse por aparelhos específicos poderá crescer.
Por enquanto, prevalece o entendimento de que o smartphone é suficiente para a maioria das interações com assistentes de IA. Até que se demonstre um benefício substancial em separar esse recurso num dispositivo exclusivo, empresas como a Logitech focam em aprimorar acessórios tradicionais, incorporando a Inteligência Artificial de forma transparente ao ecossistema que os utilizadores já conhecem.






