Mulheres fora do mercado têm três vezes mais risco de violência doméstica, indica pesquisa

A nova edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher mostra que a falta de inserção no mercado de trabalho amplia significativamente a vulnerabilidade feminina. Segundo o levantamento, mulheres que não exercem atividade remunerada têm probabilidade três vezes maior de sofrer agressões em comparação com trabalhadoras formais. O estudo foi conduzido pelo DataSenado e pela Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), e ouviu 21.641 brasileiras com 16 anos ou mais em todo o país.

Alterações na rotina após as agressões

Entre as respondentes que já passaram por violência doméstica, 69% relataram mudanças substanciais no dia a dia, o que representa cerca de 24 milhões de mulheres. Desse grupo, 68% sentiram impacto nas relações sociais, 46% tiveram o trabalho remunerado afetado e 42% viram os estudos comprometidos. Os dados apontam que a violência doméstica vai além do ambiente familiar e interfere diretamente na autonomia financeira, no acesso à educação e na qualidade de vida.

A coordenadora do OMV, Maria Teresa Prado, avalia que a restrição a atividades laborais e educacionais compromete o futuro das famílias e do país. Para ela, a violência domestica “limita a autonomia e pode impedir o acesso a direitos básicos”.

Conexão entre renda e risco de agressão

Além de medir a incidência de violência, a pesquisa analisou o perfil socioeconômico das vítimas. Entre as mulheres que já sofreram algum tipo de agressão, 66% recebem até dois salários mínimos. O cruzamento dos dados demonstra que a desigualdade de renda contribui para a permanência no ciclo de violência, reforça a diretora executiva da Associação Gênero e Número, Vitória Régia da Silva. “Autonomia econômica não é apenas desejável; é estratégica para o enfrentamento”, destaca.

Para mulheres fora da força de trabalho, a prevalência de violência atinge 12%, contra 4% entre trabalhadoras formais. A diferença acentua a necessidade de ações que promovam geração de renda e emprego voltados ao público feminino, enfatiza a líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência Contra Mulheres e Meninas no Instituto Natura. Ela defende programas integrados que articulem segurança pública, saúde, assistência social, educação e renda.

Perfil da pesquisa e metodologia

Criada em 2005 para subsidiar a elaboração da Lei Maria da Penha, a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher ocorre a cada dois anos. Na 11ª edição, as entrevistas foram realizadas entre agosto e outubro deste ano, por telefone e de forma anónima, com participantes distribuídas pelas cinco regiões. O questionário abordou experiências de agressão física, psicológica, sexual, moral e patrimonial, além de avaliar o suporte recebido pelas vítimas e a percepção sobre políticas públicas.

Mulheres fora do mercado têm três vezes mais risco de violência doméstica, indica pesquisa - Imagem do artigo original

Imagem: Internet

Os resultados reforçam a urgência de ações governamentais voltadas à independência financeira feminina, qualificação profissional e proteção social. Especialistas apontam que mulheres dependentes financeiramente do agressor enfrentam barreiras para denunciar e romper o ciclo de violência. Nesse contexto, a integração de políticas de emprego, renda e educação é vista como elemento-chave para reduzir os índices.

Contexto internacional

O levantamento nacional dialoga com estimativas recentes da ONU, que apontam mais de 50 mil mortes de mulheres e meninas, em 2024, causadas por parceiros ou familiares. Isso indica que a residência continua a ser um dos locais mais perigosos para mulheres em todo o mundo, destacando a necessidade de fortalecer medidas de prevenção e proteção.

Em resumo, a pesquisa brasileira evidencia que a autonomia económica é fator decisivo na prevenção da violência doméstica. Ao quantificar os impactos sobre trabalho e estudo, o documento reforça que políticas públicas integradas são essenciais para garantir segurança, independência e oportunidades às mulheres.

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