A OpenAI desenvolve um mecanismo de publicidade para o ChatGPT, segundo referências encontradas na versão beta mais recente do aplicativo para Android. O material de teste inclui comandos de software que indicam a criação de espaços dedicados a “ads”, passo inicial para exibir anúncios dentro do serviço de inteligência artificial.
Referências no código indicam novo recurso
As pistas foram localizadas por Tibor Blaho, engenheiro que mantém uma ferramenta de otimização para o ChatGPT e o concorrente Claude. Ao comparar o APK recém-lançado com a versão anterior, Blaho identificou termos como “ads feature”, “bazaar content”, “search ad” e “search ads carousel”. A nomenclatura sugere um formato voltado sobretudo para resultados de busca, estratégia semelhante à utilizada pelo Google.
Os trechos detectados funcionam como esqueleto de um sistema de segmentação publicitária. Embora ainda não exista anúncio visível para o utilizador final, o código prepara rotas internas que podem hospedar campanhas, banners ou carrosséis de produtos.
Procurada pela imprensa, a OpenAI confirmou que testa diferentes formas de monetização, mas não detalhou cronograma nem modelo comercial.
Pressão por receitas adicionais
Nos últimos meses, a OpenAI ampliou o portfólio com o gerador de vídeos Sora, o navegador Atlas e a função de conversas em grupo no ChatGPT. A busca por novas fontes de renda acompanha a escalada de custos ligada ao uso intensivo de infraestrutura em nuvem, necessária para treinar e operar modelos de linguagem em larga escala.
Estimativa do banco HSBC indica que, mesmo multiplicando a base de assinantes do plano pago e introduzindo publicidade, a empresa precisará de aproximadamente US$ 207 milhões em 2030 apenas para cobrir compromissos de processamento avançado.
A empresa, avaliada em cerca de US$ 500 milhões, mantém desde 2022 um braço dedicado a produtos rentáveis, chefiado por Nick Turley, ex-executivo do serviço de armazenamento Dropbox. Esse departamento liderou a adaptação do ChatGPT para uso cotidiano e responde por projetos capazes de gerar receita direta.
Um levantamento do site The Information mostra que 30 % dos cerca de 3 000 empregados da companhia têm passagens pela Meta, controladora de Instagram, Facebook e WhatsApp, corporação que domina boa parte do mercado de anúncios digitais.
Imagem: Internet
Personalização, privacidade e mudança de discurso
Fontes internas ouvidas pela publicação especializada afirmam que a equipa discute empregar o mecanismo de memória do ChatGPT para exibir publicidade orientada ao perfil do utilizador. A tecnologia permite que o chatbot recorde interações passadas e ajuste o tom das respostas, recurso que poderia servir para segmentação.
Atualmente, a ativação de configurações de privacidade reduz a eficácia dessa memória, o que levanta debate sobre o equilíbrio entre anúncios personalizados e proteção de dados. Especialistas observam que qualquer implementação exigirá transparência sobre coleta e uso de informações.
O diretor-executivo Sam Altman já deu sinais de flexibilização. No início do ano, ele classificava a presença de anúncios como “último recurso” por considerá-la potencialmente perturbadora. Em entrevista recente, descreveu publicidade como “um pouco desagradável”, mas admitiu que não descarta o modelo.
Com a introdução do código publicitário no aplicativo Android, a OpenAI avança para além da fase conceitual. A empresa não confirmou se os testes também ocorrem na versão iOS ou na interface web.
Enquanto a ferramenta não é oficializada, analistas veem o movimento como sinal de transição da startup para uma estratégia de monetização mais diversificada, combinando subscrição, venda de serviços empresariais e agora publicidade dentro do próprio chatbot.
