Ponto de Cultura Inês Ettiene inaugura memorial e reforça pedido de expropriação da Casa da Morte

O Ponto de Cultura Inês Ettiene, criado para preservar a memória política e promover a defesa dos direitos humanos no Brasil, foi oficialmente lançado no último domingo (30) em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. A cerimónia reuniu investigadores, militantes e familiares de vítimas da chamada Casa da Morte, imóvel usado como centro de tortura durante a ditadura militar.

Evento destaca legado de resistência

A programação começou com um ato público em frente à residência onde opositores do regime foram mantidos em cativeiro na década de 1970. Participantes pediram a desapropriação da propriedade para que seja transformada num espaço permanente de memória. De acordo com membros do novo Ponto de Cultura, a mudança permitiria visitas, exposições e atividades educativas voltadas a esclarecer a população sobre violações cometidas pelo Estado no período.

O local ganhou notoriedade por causa do depoimento de Inês Ettiene Romeu, única sobrevivente conhecida entre os detidos na Casa. Presa pelo Exército em maio de 1971, a militante permaneceu ali até agosto do mesmo ano e foi submetida a torturas constantes. Depois de libertada, relatou as práticas que testemunhou, contribuindo para a reconstrução de parte dos acontecimentos do período autoritário. Inês morreu em 2015, mas tornou-se referência na luta por justiça e reparação, motivo pelo qual dá nome ao projeto recém-criado.

Disputa judicial pela posse do imóvel

A Prefeitura de Petrópolis obteve autorização da 4.ª Vara Cível para tomar posse do imóvel no início deste ano, mas o processo não foi concluído. A casa continua sob domínio privado, pertencendo a um comprador que, segundo ativistas, adquiriu o bem do antigo proprietário Ricardo Lodders — apontado como quem disponibilizou o endereço ao Exército durante a ditadura.

Integrantes do movimento afirmam que buscam recursos financeiros para viabilizar a aquisição ou desapropriação definitiva. Enquanto isso, o grupo mantém um pró-memorial, estrutura provisória que recolhe documentos, fotografias e testemunhos relacionados à Casa da Morte.

Programação cultural e educativa

Além da mobilização fundiária, o Ponto de Cultura planeia uma série de ações voltadas à difusão do tema. Entre as iniciativas estão sessões de cinema, apresentações musicais e mostras artísticas que abordem violações de direitos humanos praticadas durante o regime de exceção. Segundo Vera Vital Brasil, membro da coordenação, o objetivo é levar informações históricas ao público e fortalecer a discussão sobre reparação e prevenção de novos abusos.

Vera destaca ainda a participação de familiares de desaparecidos políticos nos eventos. Alguns têm a confirmação de que parentes passaram pela Casa da Morte; outros buscam evidências que sustentem a hipótese. A presença dessas pessoas, afirma, confere caráter de urgência à transformação do imóvel num espaço de memória pública.

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Imagem: Últimas Notícias

Importância histórica de Inês Ettiene

A escolha do nome do Ponto de Cultura homenageia a militante cuja narrativa ajudou a revelar o funcionamento interno da Casa da Morte. Sobrevivente de um dos principais centros clandestinos de detenção da ditadura, Inês representa para o coletivo um símbolo de resistência. Ao denunciar as práticas ali cometidas, ela forneceu subsídios que mais tarde embasaram investigações oficiais e relatórios de comissões da verdade.

Os organizadores avaliam que preservar o legado da ativista é essencial num contexto em que vozes negacionistas tentam minimizar ou relativizar crimes de Estado. Para o grupo, a institucionalização do memorial contribui para manter viva a lembrança das vítimas e reforça o compromisso social com a democracia e os direitos fundamentais.

Próximos passos

Entre as metas traçadas pelos responsáveis estão a captação de fundos para aquisição do imóvel, a ampliação do acervo documental e o estabelecimento de parcerias com universidades e organizações de direitos humanos. A longo prazo, pretendem desenvolver projetos pedagógicos que atendam escolas públicas, favorecendo o ensino da história recente do país de forma crítica e fundamentada.

Enquanto aguarda desfecho judicial sobre a posse da propriedade, o Ponto de Cultura Inês Ettiene continuará a realizar atividades itinerantes em Petrópolis e outras cidades da região, mantendo o debate público sobre memória, verdade e justiça.

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