O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aplicado neste domingo (30) na Região Metropolitana de Belém propôs como tema de redação “A valorização dos trabalhadores rurais no Brasil”. A escolha levou estudantes de Belém, Ananindeua e Marituba a refletir sobre a importância estratégica do trabalho no campo e a persistente baixa valorização desses profissionais.
Redação chama atenção para invisibilidade no campo
Para o professor Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação, o tema “escancara a contradição” entre o peso econômico da atividade rural e o reduzido reconhecimento social dos trabalhadores. O docente avalia que a proposta convida o candidato a abordar questões como proteção social, condições de trabalho, acesso à educação, tecnologia e oportunidades de crescimento no meio rural.
De acordo com o Censo Agropecuário 2017 do IBGE, 15,1 milhões de pessoas atuavam em estabelecimentos agropecuários no país, sendo 77% enquadrados como agricultura familiar. Mesmo responsáveis por garantir segurança alimentar, abastecimento urbano e cadeias industriais, esses profissionais enfrentam índices mais altos de informalidade, precarização e casos de trabalho análogo à escravidão, lembra o professor.
Celedônio destaca ainda que o avanço da urbanização contribui para tornar o trabalho rural menos visível aos moradores das cidades. Ao trazer o tema para o centro da redação, o Enem força o estudante a reconhecer a origem dos alimentos, das matérias-primas e de parte significativa da cultura brasileira.
Prova adiada envolve 95,7 mil inscritos na Grande Belém
A aplicação na Grande Belém foi remarcada por causa de compromissos logísticos ligados à Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), prevista para novembro de 2025 na capital paraense. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 95,7 mil candidatos foram convocados para o exame deste domingo nos três municípios.
Em 9 de novembro, data original válida para o restante do país, o tema de redação havia sido “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”. Apesar das diferenças de conteúdo, o Ministério da Educação informa que a Teoria de Resposta ao Item (TRI) garante comparabilidade entre as provas, assegurando equidade e isonomia de resultados.
Pistas para argumentação
Segundo Celedônio, o comando da redação permitiu aos participantes explorar múltiplas dimensões do Brasil rural. Entre elas, aparecem:
Imagem: Internet
- educação no campo e formação técnica;
- conectividade e acesso a tecnologias digitais;
- políticas de formalização do trabalho e fiscalização;
- permanência de famílias nas comunidades rurais;
- papel dos agricultores na transição ecológica.
O professor nota que qualquer discussão sobre sustentabilidade precisa considerar as condições de vida e trabalho dos trabalhadores rurais. Dessa forma, a proposta envolve não apenas diagnóstico, mas também a apresentação de soluções viáveis, coerentes com a tradicional exigência de intervenção social prevista na redação do Enem.
Como foi o primeiro dia de provas
O exame começou às 13h30 e terminou às 19h. Os participantes responderam a 45 questões de Linguagens, 45 de Ciências Humanas e redigiram o texto dissertativo-argumentativo. A saída da sala é permitida somente a partir das 15h30, sem o caderno de questões; quem deseja levar o material deve aguardar até os últimos 30 minutos de prova.
O segundo dia de avaliação na Grande Belém ocorrerá em 7 de dezembro, com questões de Ciências da Natureza e Matemática. O tempo total será de cinco horas, até às 18h30.
Contexto nacional de temas de redação
Nos últimos anos, o Enem tem abordado tópicos sociais relevantes. Em 2024, a aplicação regular tratou dos “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, enquanto 2023 discutiu a “invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher”. A nova proposta direcionada à Grande Belém mantém a linha de debate sobre grupos historicamente pouco reconhecidos.
Para especialistas, a série de temas evidencia a intenção do exame de estimular análise crítica e cidadã. Ao focar a realidade rural, a edição adiada leva o debate sobre direitos, desenvolvimento e sustentabilidade a milhares de estudantes que buscam ingressar no ensino superior.




