O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na rede social Truth Social que o espaço aéreo da Venezuela deve ser considerado totalmente fechado por companhias aéreas. A publicação, divulgada no sábado (29), estendeu o alerta a traficantes de drogas e de pessoas, sem detalhar eventuais medidas de fiscalização.
Declaração surpreende autoridades dos EUA
Fontes citadas pela agência Reuters relataram surpresa entre autoridades norte-americanas. De acordo com esses interlocutores, não havia registro de operações militares em curso que pudessem sustentar o anúncio de Trump. Nenhum órgão oficial dos Estados Unidos emitiu, até o momento, diretrizes semelhantes para o setor de aviação civil internacional.
Apesar da ausência de confirmação governamental, a mensagem ocorre num contexto de tensão crescente entre Washington e Caracas. Nos últimos meses, navios de guerra norte-americanos foram posicionados no Mar do Caribe, sob o argumento de combate ao tráfico de drogas na região. A operação resultou no abatimento de pequenas embarcações, com registro de mortos, segundo relatos anteriores da Casa Branca.
Duas semanas antes do novo comunicado, Trump chegou a mencionar a possibilidade de dialogar com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, mas não apresentou detalhes sobre um eventual canal diplomático. Já na sexta-feira (28), o ex-chefe de Estado voltou a adotar tom mais duro e declarou que poderia ordenar ações terrestres contra organizações que, segundo ele, traficam entorpecentes para os Estados Unidos.
Caracas condena “ameaça colonialista”
Horas após a publicação em Truth Social, o governo venezuelano divulgou nota oficial. No texto, qualificou a declaração de Trump como “ato hostil, unilateral e arbitrário”, afirmando que a postura contraria os princípios do direito internacional e fere a soberania do país. Caracas considera que a mensagem integra uma “política permanente de agressão” com pretensões coloniais sobre a América Latina e o Caribe.
A chancelaria venezuelana ressaltou que qualquer restrição ao espaço aéreo nacional depende exclusivamente de autoridades locais e de tratados multilaterais operados pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI). O comunicado não menciona contramedidas imediatas, mas indica que a Força Aérea foi orientada a manter vigilância reforçada. Em pronunciamento anterior, Maduro já havia pedido que militares permanecessem em alerta para “defender os direitos da Venezuela”.
Contexto de escalada retórica
A tensão entre Estados Unidos e Venezuela intensificou-se a partir de 2019, quando Washington deixou de reconhecer Maduro como presidente legítimo e impôs sanções económicas abrangentes. Embora o governo norte-americano atual mantenha a linha dura, Trump, mesmo fora do cargo, continua a posicionar-se publicamente sobre a crise venezuelana.
Imagem: Últimas Notícias
Especialistas em relações internacionais consultados pela Reuters avaliam que mensagens como a publicada no sábado podem gerar incerteza entre companhias aéreas, ainda que não tenham força normativa. Para companhias que operam rotas na América do Sul, decisões sobre sobrevoo levam em conta comunicados oficiais da Administração Federal de Aviação (FAA) ou de órgãos equivalentes em outros países.
Possíveis impactos na aviação civil
Até o momento, a FAA não atualizou as diretrizes de trânsito aéreo referentes à Venezuela. O país tem restrições de segurança operacional desde 2019, quando a agência norte-americana recomendou que voos comerciais evitassem o território venezuelano devido a instabilidade política e risco de confrontos armados. A orientação, no entanto, não equivalia a um bloqueio integral do espaço aéreo.
Se autoridades dos Estados Unidos ou de organismos internacionais adotarem postura compatível com o anúncio de Trump, empresas aéreas teriam de ajustar rotas que cruzam o Caribe ou ligam a América do Norte ao Cone Sul. Isso implicaria aumento no tempo de viagem, consumo adicional de combustível e custos operacionais mais altos. Até a publicação desta matéria, nenhuma companhia divulgou alterações de plano de voo.
Repercussão regional
Governos de países vizinhos ainda não se pronunciaram sobre o caso. Em anos anteriores, Colômbia, Brasil e membros da Comunidade do Caribe (Caricom) manifestaram preocupação com o impacto de possíveis ações militares no litoral venezuelano. A Organização dos Estados Americanos (OEA) também discute regularmente a situação política no país, mas não incluiu o tema do espaço aéreo na agenda recente.
Enquanto não há confirmação de medidas oficiais, o comunicado de Trump adiciona novo elemento de incerteza às relações bilaterais. Observadores apontam que a postura pode influenciar o debate interno nos Estados Unidos sobre políticas de segurança nacional e narcotráfico, tema recorrente em discursos do ex-presidente.





